O samba de exaltação: convergências e conflitos na construção discursiva da identidade nacional
Resumo
A proposta deste artigo é analisar de que maneira diversos atores sociais contribuíram no processo de nacionalização do samba e na sua transformação em referência identitária e locus discursivo da brasilidade. Justifica-se essa pesquisa pela busca da compreensão sobre as negociações identitárias que ocorrem entre intelectuais, Estado, meios de comunicação de massa e cultura popular. O samba nasce regional, carioca, por meio de diálogos, trocas e interesses entre as classes hegemônicas e subalternas, vai transfigurando-se em nacional-popular. Os intelectuais, como Gilberto Freyre, o Estado Novo (1937-1945), o rádio e as classes populares participaram ativamente na invenção do samba enquanto tradição da cultura brasileira. O samba cívico ou samba de exaltação faz uma representação sonora da Brasil nesse momento de preocupação da construção e consolidação da identidade brasileira durante o Estado Novo. A fim de evidenciar a materialização ideológica do nacionalismo estadonovista, foi realizada uma análise interpretativa, tendo como base teórica a análise do discurso, da composição Aquarela do Brasil de Ary Barroso, o mais famoso samba de exaltação, que emerge nesse contexto, especificamente, para exaltar o país e narrar a brasilidade. Concluiu-se que samba de exaltação fixa o gênero musical como locus discursivo da identidade nacional, contribui para sua nacionalização e traz traços da materialidade ideológica de seu tempo e de sua condição de produção.